Quero mais ... Maria, amante de si mesma ...


Maria é uma nova amiga, conhecia-a de uma maneira muito especial. Igual à maioria dos casais da nossa geração, casou com o noivo de toda a sua vida, e após tantos anos de se relacionar, dia a dia, com a mesma pessoa, sente que a rotina a aprisiona, tinha se acomodado.



Começa a notar que dentro de si algo cresce, um certo mal-estar, vontades de experimentar, de provar, de viver, enfim, tudo aquilo que o seu papel de mulher, esposa e mãe não lhe permitiu viver.
Maria tem olhos de menina revoltosa, um sorriso que lhe ilumina o rosto como se tivesse engolido um reflexo, e uma mistura por partes iguais de inocência e sedução. Quando escreve, desopila, escondendo por detrás das letras a sua incipiente excitação, mas sem sucesso.


A Maria imagino-a em casa, sozinha, depois do jantar, de arrumar a mesa e a cozinha, depois do marido e do filho ter saído para o exterior, vejo-a a entrar no quarto e olhar de lado o espelho que tem em frente à cama, e surpreender-se ao ver o seu reflexo nele.


Os espelhos têm algo de mágico, formam a nossa imagem, ensina-nos como somos bem lá mais do que a simples vista. Torna-nos naquilo que queremos, nesse momento. Imagino-a olhando-se a si mesma, com o olhar perdido e a divagar, sonhando, e acorda nas suas fantasias de mulher madura, de menina inquieta, de adolescente sonhadora. E nesse momento do sonho, o seu corpo acorda.


Notando cada corrente de ar, cada pequeno ruído da casa, cada mudança de temperatura. Vejo-a despir-se lentamente, em frente ao espelho, deixando a roupa cair sem fazer ruído, amontoando-se a seus pés, levanta o joelho com graça para deixar atrás a última, a mais íntima, a cobertura que todos os homens gostam de retirar, a sua calcinha.



Vejo a Maria sentada à beira da cama, assombrada da sua nudez, da calidez que desprende a sua pele, do nervosismo que começa a vibrar no seu ventre; nota a sua púbis a arrepiar, como se o ar se tivesse enchido de ozono e um raio estivesse a ponto de cair. Balança a loura cascata de cabelos que salpica nos seus ombros, e deixa cair distraidamente a mão pelos seus peitos, acaricia-os como só ela sabe o fazer, com a perícia daquele que conhece o funcionamento do seu próprio corpo, a perfeição dos movimentos.



Nota como se endurecem, como os seus mamilos deixam de ser carne para se converter em ébano, em bambu. E olha-se nos olhos, brilham, gosta do que vê, vê da luz que ninguém tem podido ver, o reflexo de um milhão de pedras no fundo de um rio.



Imagino a Maria acariciando o seu ventre, quase com medo de baixar mais, de aproximar os dedos a seu sexo, como se alguém a pudesse ver e ficar regalado. Vejo-a deslizar os seus dedos entre as suas coxas, entreabertas, depois deslizar pelos seus lábios vaginais e surpreender-se da sua própria humidade, da sua excitação, vejo-a separar os joelhos, insinuando ao espelho, incitando a sua imagem, tentando prazer com o seu próprio reflexo.



Deixa-se levar, porque não pode remediá-lo, porque o que tem dentro deve escapar ou voltá-la-á louca, abre o seu sexo de par em par, e toca-o com umas mãos que já não são nem sequer suas, e as paredes lhe devolvem o eco dos seus gemidos, olha-se e gosta, penetra mais na sua própria carne. Roda pela cama, amante de si mesma, mas sem deixar de se olhar, como se pudesse sair do seu corpo e ver sobre a cama, tocar-se enquanto se vê a si mesma se tocar, a magia dos espelhos.


Vejo a Maria com a boca entreaberta, temerosa de que os vizinhos a possam escutar, aguentando o rugido que da sua alma se escapa, vejo-a submergir-se dentro de si, afogar os seus dedos cada vez mais profundamente, cada vez mais rapidamente, sem tréguas, sem descanso, sem paz.


É uma guerra fratricida, Maria contra Maria, onde a única vítima será o seu lençol. E geme baixinho, e geme, vê as suas bochechas rosadas como duas maçãs, vê os seus peitos subir e descer acelerados, e vê os seus dedos entrar, sair, brilhantes de humidade, e gosta, gosta muito e de muito mais.


Imagino a Maria tendo o seu orgasmo contra a almofada, afundada com a cabeça para poder gritar, imagino como se arqueiam as suas costas, como o seu sexo molha a sua cama, como tenta recuperar a respiração. Vejo-a abrindo as janelas para que não fique rasto do seu próprio aroma, como lava as suas mãos com sabão, como recolhe as suas roupas, como deixa de ser a Maria, a mulher, para se disfarçar de Maria, a senhora, a mãe, a esposa…

Como te espero tanto Maria, com a minha boca, com as minhas mãos, com os meus dedos, com o meu sexo…

Beijos
J.